O Jogo Dramático Infantil (de Peter Slade)

1. AUTOR E OBRA

SLADE, Peter. O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus, 1987, pp. 17-24.

PETER SLADE é um pesquisador inglês, reconhecido internacionalmente, pioneiro no campo do teatro para crianças e perito no desenvolvimento de trabalhos direcionados a portadores de necessidades especiais.

Em “O Jogo Dramático Infantil”, o autor, com base em suas observações, explica o tipo de drama criado pelas crianças e a forma como adultos podem orientá-las de maneira construtiva. A obra apresenta uma abordagem analítica e visa abrir novas perspectivas, promovendo a ampliação do repertório por meio da adoção de novas regras de atuação. Baseando-se em sua vasta experiência com crianças e adolescentes, Slade procura oferecer respostas às dúvidas dos profissionais que trabalham com teatro aplicado à educação. O autor traça um paralelo entre o jogo dramático infantil e a arte infantil, da pré-escola à adolescência. (SUMMUS, 2007)

2. SÍNTESE DA OBRA

SLADE (1987, p. 18) parte do princípio de que para se pensar a forma de arte do Jogo Dramático Infantil, é necessário levar em consideração a diferença entre o que a criança faz na realidade e o que se sabe e entende por teatro. “Teatro significa uma ocasião de entretenimento ordenada e uma experiência emocional compartilhada”. A raiz do jogo dramático é a brincadeira de representar o jogo. Este é “a maneira da criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembra, ousar, experimentar, criar e absorver”. Embora em seus primeiros anos a criança não sinta a diferença, cada pessoa é tanto do autor como do auditório.

Através de tentativas emocionais e físicas, a criança descobre a vida e a si mesma. Através do jogo e da prática repetitiva proporcionada por ele, ocorre a internalização e a transformação através da concentração e da transformação do indivíduo. No entanto, SLADE (1987, p. 18) considera que a relação com o teatro só ocorre a partir da imposição dos adultos. Estes devem proporcionar oportunidades e encorajamento, de forma a conquistar “a confiança por meio da amizade e criar a atmosfera propícia por meio de consideração e empatia”. Desta forma, a tarefa do professor é de “aliado amoroso”.

O drama infantil envolve duas qualidades fundamentais para o indivíduo em crescimento: a absorção (total envolvimento no que está sendo feito); a sinceridade (honestidade completa no representar de um papel). Estas são qualidades que devem ser estimuladas.

Seguindo a classificação do autor, são formas precoces de jogo: o jogo pessoal e o jogo projetado. Segundo explicações de SLADE (1987), o jogo pessoal envolve a pessoa total, em interação entre movimento e caracterização. Este jogo favorece o desenvolvimento da sinceridade através da fé absoluta no papel representado, pois a criança perambula pelo local e toma para si a responsabilidade de representar um papel.

Por outro lado, o jogo projetado envolve a mente, mas não o corpo totalmente. Para SLADE (1987, 19) , este jogo favorece a absorção, uma vez que ocorre uma forte projeção mental e assumem importância “os objetos com os quais se brinca, mais do que a pessoa que está brincando”, embora possa haver “vigoroso uso da voz”. Absorção e sinceridade, combinadas, acrescentam qualidade uma à outra, assim como à pessoa que joga, sendo que estes dois processos exercem uma influência importante na construção do indivíduo total, no seu comportamento e capacidade de adaptação à sociedade.

Entre as formas recorrentes do jogo dramático infantil, nota-se o círculo. O autor considera que de início surge o círculo de criancinha, observável no engatinhar e mais tarde no correr, no girar no mesmo lugar, no sapatear e saltitar. Segundo informações de SLADE (1987, p. 21), “entre os cinco e sete anos os círculos se alargam, aparece o círculo cooperativo, com todos participando e o círculo cheio com todos correndo em volta. (...) Em torno dos sete anos ou pouco antes, torna-se aparente o estágio dos bandos, turmas, porque os companheiros são uma parte importante da vida normal nessa idade”.

O autor informa que na pré-escola nota-se a espiral, pois “em muitos de seus movimentos as crianças correm para a esquerda, com os corações para o centro do recinto”. Na escola primária nota-se um círculo irregular, comum em jogos dramáticos de correria. Dos doze aos treze anos, aparecem pequenos grupos enturmados na frente do palco.

Com o estágio da turma o círculo se subdivide em círculos menores. Estes têm caráter tanto simbólicos quanto sintomáticos e muitas vezes contém membros de um estreito relacionamento social. O autor ressalta que o círculo pode ser observado, em diversas variações, entre os onze e treze anos. Depois disso surge naturalmente uma inclinação genuína para o teatro como o conhecemos.

Uma vez que as crianças já tenham aprendido a distinguir o espaço físico e desejam melhor encarar o drama, em sua dimensões emocional e estética, concebem a eqüidistância e, neste estágio, passam a atingir a meticulosidade mental e a dar-se conta das necessidades alheias. SLADE (1987) ainda lembra que a eqüidistância é fator precursor da composição, favorecendo que massa, cor e espaço sejam arranjados proposital e intelectualizadamente.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As informações de SLADE (1987) podem ser melhor entendidas a partir dos ensinamentos de KOUDELA (2001). Esta autora apresenta os fundamentos do conceito de “Jogos Teatrais”, considerando o sistema desenvolvido por Viola Spolin e esclarecendo as implicabilidades do jogo dramático e do jogo teatral.

Importante contribuição à melhor compreensão de SLADE (1987) também pode ser atingida considerando-se os ensinamentos de BRUHNS (1993). Esta autora se dispõe-se a analisar as relações entre o jogo e os fatores de ordem social e cultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRUHNS, H. T. O corpo parceiro e o corpo adversário. Campinas: Papirus, 1993.

EDITORA SUMMUS. Disponível na Internet em <http:/ www.summus.com.br/> Acessado em 16.06.2007.

KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 2001, pp. 39-49.

SLADE, Peter. O Jogo dramático infantil. São Paulo: Summus, 1987, pp. 17-24